quarta-feira, 22 de maio de 2024
Material didático gratuito
quarta-feira, 10 de maio de 2023
O salto de fé
Em entrevista ao Estadão, Guilherme Arantes afimou que "o piano brasileiro morreu", que "hoje em dia ninguém mais toca piano", dentre outras afirmações que expressam uma angústia que eu posso dizer que compreendo.
De Guilherme Arantes pra cá, o cenário musical mudou muito e o mercado musical é cruel, não perdoa. Por essas e por outras eu cheguei a "abandonar o barco" pouco tempo depois de zarpar, ainda próximo à praia.
Qual é meu lugar nesse mundo? Como competir com os "Hot 100" da Billboard? Pra quê ser músico se ninguém vai querer escutar as músicas que você ama tocar? Pra quê estudar música se o que costuma fazer sucesso não tem tanto conteúdo?
Um belo dia eu percebi que estava fazendo as perguntas erradas, e que as próprias perguntas em si baseavam-se em conclusões erradas. Talvez nem estivessem todas "erradas", mas não ajudavam a resolver meu problema.
Estagnado profissionalmente, sozinho na praia, comecei a pensar que a solução talvez estivesse no mar, o mesmo que outrora não tive coragem de navegar. Então olhei no horizonte e, mesmo sem ver nada além de água, comecei a acreditar que era possível.
"Navegar é preciso", mas demanda coragem. Não é preciso nem saber nadar, basta coragem. Muita gente navega os sete mares sem nunca ter aprendido a nadar. E eu que sei nadar, por que não tentar novamente?
Então, num desses momentos sobrenaturais de sincronicidade, me veio à mente uma cena profundamente simbólica de "Indiana Jones e a Última Cruzada", onde o herói se encontra diante de um abismo e não enxerga o caminho até ter a coragem de dar o primeiro passo, "o salto de fé".
Por mais perigoso que seja, o mar sempre foi e sempre será, por natureza, uma fonte de recursos muito maior que qualquer praia no mundo. Não o fosse, pescadores não arriscariam suas vidas adentrando-o para trazer o sustento de suas famílias.
Se tem uma idéia que me norteia, por mais ingênua que possa parecer, é a de que se existe alguém nesse mundo que consegue, teoricamente eu também posso conseguir. Ainda mais se houver não apenas um mas muitos alguéns... daí a coragem até aumenta.
quinta-feira, 23 de março de 2023
Era uma vez no fim de 2019...
Baralho Musical Multiuso
terça-feira, 7 de abril de 2020
O estado crítico da saúde musical
sábado, 29 de fevereiro de 2020
Desenhos de música para colorir
É extremamente duro admitir que música não é pra todos. Por isso, não vou admitir. Acho que todos tem capacidade de aprender música, mas cada um no seu tempo, respeitando seus limites, o que nem sempre é possível no âmbito do ensino coletivo. Se não tenho condições de revolucionar o ensino da música nesse contexto, é necessário, de vez em quando, abrir mão da musicalidade em prol da gestão da disciplina, apenas para viabilizar o mínimo, o que ainda é melhor do que nada.
domingo, 15 de janeiro de 2017
Orquestra de garrafadas
Boomwhackers |
Quanto aos bicos, podemos garimpá-los em câmaras de ar de moto ou bicicleta descartadas em borracharias. Os bicos devem ser rosqueados até a base (como na figura abaixo) e estar completos: com válvula e porca. Mas não dispense bicos incompletos (sem válvula ou porca) pois às vezes o que você não conseguir em uma borracharia, você pode achar sobrando noutra. A tampa é opcional, mas dependendo do público de alunos é indispensável, pois às vezes é difícil contê-los para não apertarem "sem querer querendo" a válvula deixando o ar e a afinação escaparem.
Com uma furadeira equipada com uma broca de madeira do tamanho exato do diâmetro do bico, faça um furo bem centralizado na tampa, atrevesse-o com o bico já devidamente aparado na base (em torno de 1,5cm de diâmetro) para caber dentro da tampa e prenda-o apertando bem sua porca. A própria borracha da câmara que sobra presa à base do bico, quando pressionada contra a superfície interna da tampa pela porca situada do outro lado, quase sempre é suficiente para garantir uma vedação bastante satisfatória. É importante também que você tenha um saca-válvula (o borracheiro dirá onde conseguir) para apertar ou trocar as válvulas dos bicos quando necessário.
Depois de prontas as garrafas podem ser afinadas com uma bomba manual, dessas que são vendidas em lojas de ciclismo. Podem ser afinadas com bastante precisão, com a ajuda de um afinador eletrônico. Quem for afiná-las perceberá que ao desacoplar o bico da bomba a válvula sempre deixa escapar um pouco de ar desafinando a garrafa. Por isso, calibre a garrafa com uma pressão maior do que a desejada e, com a ajuda de um objeto como um palito de fósforo por exemplo, pressione a válvula liberando pequenas quantidades de ar até chegar na afinação desejada.
Outra questão curiosa que você irá constatar é que pressão e temperatura são aspectos intimamente relacionados. Se a temperatura do ar no interior da garrafa subir ou cair, a pressão também irá subir ou cair e com isso a afinação será afetada. Da mesma forma, quando o ar escapa e a pressão diminui rapidamente o ar resfria e a afinação só estabilizará quando a temperatura no interior da garrafa se equilibrar com a temperatura do ambiente. Não sei porque, mas quando guardadas por um tempo a pressão das garrafas geralmente é alterada para mais, fazendo-se necessário a liberação de uma quantidade muitíssimo pequena para atingir a afinação exata.
Já munidos de garrafas devidamente afinadas e muita coragem e disposição o professor pode agora partir para a prática com seus alunos. As garrafas podem ser então encaradas como um material didático básico das aulas de música, pois com elas é possível trabalhar uma infinidade de conteúdos como intervalos, melodia, harmonia, divisão rítmica, textura, e etc. Uma dica importante: dependendo da faixa etária dos alunos, assim que receberem as garrafas terão um impulso incontrolável de batucá-las, o que é normal. Isso serve de alerta para o professor não esquecer de estabelecer e garantir o cumprimento dos combinados. Por isso também é mais vantagem ter uma garrafa para cada aluno, pois aquele(s) que não se comportar(em) perde(m) sua garrafa.
Para produzir som com as garrafas você pode percuti-las com uma varetinha bem fina de bambu (dessas para confeccionar pipas) ou palito de churrasco, como no vídeo da marimba pet. Batuque toda a superfície da garrafa e você vai descobrir que se percutir no lugar certo (que depende do formato da garrafa) o tom produzido será mais forte, ligeiramente mais duradouro e significativamente mais "nítido" (com mais harmônicos). No entanto, se forem utilizadas como boomwhackers, podem ser percutidas no chão (liso de preferência) se seguradas pela tampa (nunca pelo bico da câmara), o que produzirá um som significativamente mais forte e será mais prático e viável para as atividades de um modo geral.
Passa-som (dinâmica)
Esta é uma atividade muito interessante para apresentar as garrafas aos alunos, pois com as garrafas bem afinadas em tons diferentes, o resultado dessa dinâmica já é naturalmente musical.Como variação de uma dinâmica de grupo que aprendi na faculdade (salvo engano com a professora Jussara Fernandino), esta atividade visa inicialmente exercitar a atenção e a prontidão do aluno para interagir com os membros do grupo. Sentados em roda, cada participante munido com uma garrafa irá tocar quando indicado ao mesmo tempo em que indica o próximo a tocar.
Podem também seguir a ordem estabelecida pela roda, um de cada vez contra um cronômetro até completar um determinado número de voltas (vamos ver quantas voltas conseguimos completar em um minuto?), ou seguindo um determinado padrão rítmico (por exemplo, semínima-semínima-colcheia-colcheia-semínima), ou ainda um padrão de intensidade (fraco-fraco-forte-forte). A sonoridade fica cada vez mais interessante musicalmente.
Para as crianças é muito importante que as atividades tenham caráter de jogo, de brincadeira, ou em outras palavras é importante que as atividades sejam lúdicas. A implementação de regras de premiação e/ou punição pode ser explorada então nesse sentido. Pode ser um aluno "de fora" pra substituir quem errar, ou contagem de pontos no quadro, etc. Cada professor deverá encontrar a melhor alternativa de acordo com sua realidade.
Bate uma, bate duas (brincadeira)
Esta é uma adaptação do jogo das mãos. Sentados ou ajoelhados em roda e munidos com uma garrafa, a princípio os alunos devem percutir suas garrafas um de cada vez em sentido horário até que alguém, aleatoriamente, percuta duas vezes indicando a inversão do sentido para anti-horário. O aluno que bater errado é substituído por quem estiver na "de fora". Aqueles que já estiverem familiarizados com o jogo das mãos poderão então jogá-lo com as garrafas, onde cada aluno começa o jogo já munido de duas garrafas (uma em cada mão) e quando errar a jogada perde a garrafa e a mão que errou.Criação e Adaptação
Atividades de criação musical devem inicialmente ser orientadas (focadas em determinados parâmetros musicais) e aos poucos libertadas (associando dois parâmetros, depois três e assim por diante). Com as garrafas é fácil trabalhar parâmetros como altura, duração, intensidade e densidade. Na verdade, o parâmetro da duração é subliminarmente percebido através da distância entre os ataques, algo que é natural e característico do estudo da percussão.Quanto à adaptação de músicas para as garrafas, as possibilidades são inúmeras. Harmonização é um bom ponto de partida pois compreende a execução simultânea de grupos de garrafas sob uma regência mais simples. O professor pode organizar as notas dos acordes em grupos e aqueles que tiverem as notas contidas nos grupos tocarão quando indicado pela regência.
Pra finalizar, uma paródia que fiz com meus alunos como pretexto para uma adaptação.
REFERÊNCIAS:
² IDIOFONE: tipo de instrumento cujo som é produzido pela vibração do próprio corpo do instrumento quando percutido (por exemplo: claves, cowbel, woodblock, agogô).
³ BARÓFONO: etimológicamente, BARO- "pressão" + FONO = som, ou instrumento cujo som é produzido pela pressão atmosférica.