quarta-feira, 22 de maio de 2024

Material didático gratuito

Este material foi desenvolvido durante o curto tempo em que tentei ser professor de música em escolas de ensino regular e algumas escolas de ensino especializado. Como vez ou outra alguém descobre esse material pela internet e me pede pra compartilhar organizei tudo que produzi de mais relevante em dois compilados. Muitos dos jogos e atividades são auto explicativos e alguns possuem até postagens exclusivas a respeito. Mas quaisquer dúvidas a respeito da confecção e/ou execução dos jogos e das atividades musicais me disponho a esclarecer, preferencialmente via WhatsApp e redes sociais. WhatsApp +55 32 999299870 / Instagram @focanopiano


Compilado A4 - Atividades musicais em folha,
voltadas para o ensino escolar de música.



Compilado A3 - Jogos didáticos de carta e tabuleiro,
voltados para o ensino escolar de música.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

O salto de fé


Em entrevista ao Estadão, Guilherme Arantes afimou que "o piano brasileiro morreu", que "hoje em dia ninguém mais toca piano", dentre outras afirmações que expressam uma angústia que eu posso dizer que compreendo.

De Guilherme Arantes pra cá, o cenário musical mudou muito e o mercado musical é cruel, não perdoa. Por essas e por outras eu cheguei a "abandonar o barco" pouco tempo depois de zarpar, ainda próximo à praia.

Qual é meu lugar nesse mundo? Como competir com os "Hot 100" da Billboard? Pra quê ser músico se ninguém vai querer escutar as músicas que você ama tocar? Pra quê estudar música se o que costuma fazer sucesso não tem tanto conteúdo?

Um belo dia eu percebi que estava fazendo as perguntas erradas, e que as próprias perguntas em si baseavam-se em conclusões erradas. Talvez nem estivessem todas "erradas", mas não ajudavam a resolver meu problema.

Estagnado profissionalmente, sozinho na praia, comecei a pensar que a solução talvez estivesse no mar, o mesmo que outrora não tive coragem de navegar. Então olhei no horizonte e, mesmo sem ver nada além de água, comecei a acreditar que era possível.

"Navegar é preciso", mas demanda coragem. Não é preciso nem saber nadar, basta coragem. Muita gente navega os sete mares sem nunca ter aprendido a nadar. E eu que sei nadar, por que não tentar novamente? 

Então, num desses momentos sobrenaturais de sincronicidade, me veio à mente uma cena profundamente simbólica de "Indiana Jones e a Última Cruzada", onde o herói se encontra diante de um abismo e não enxerga o caminho até ter a coragem de dar o primeiro passo, "o salto de fé".

Por mais perigoso que seja, o mar sempre foi e sempre será, por natureza, uma fonte de recursos muito maior que qualquer praia no mundo. Não o fosse, pescadores não arriscariam suas vidas adentrando-o para trazer o sustento de suas famílias.

Se tem uma idéia que me norteia, por mais ingênua que possa parecer, é a de que se existe alguém nesse mundo que consegue, teoricamente eu também posso conseguir. Ainda mais se houver não apenas um mas muitos alguéns... daí a coragem até aumenta.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Era uma vez no fim de 2019...


Eu: Eu não sou burro, nem incompetente... 

Anjo da Guarda: Claro que não, você é meu "cria" pô...

Eu: Eu sou bom no que faço, eu tenho cada idéia...

Anjo da Guarda: Esse é meu garoto, continua, vai... autoestima!

Eu: Não é possível que eu não encontre alguma forma de ganhar mais dinheiro com música pra deixar de ser coveiro em Lagoa Dourada, ser mais realizado e trazer mais conforto pra minha família... Afinal eu estudei minha vida toda pra isso...

Anjo da Guarda: Esse é o espírito! E aí... vai fazer o quê?

Eu: Vou abrir uma escola de música em Resende Costa.

Anjo da Guarda: NÃÃÃO SEU IDIOTA!!! Você entendeu tudo errado...

Eu: Agora é só gravar uns vídeos pra atrair os alunos e abraço! Vai ser um sucesso!

Anjo da Guarda: Essa anta não entendeu nada... quanto tempo sussurrando nas idéias pra nada... e ainda por cima tá vindo uma pandemia que vai virar o mundo de cabeça pra baixo... "ô chefia! me libera umas férias aí? Tô precisando..."

Deus: Ó o respeito... tá achando que cê tá falando com quem? Têm férias não. Só quando teu "cria" voltar aqui pra cima...

As 7 miniaulas

Baralho Musical Multiuso


Eu devia ter feito uma postagem sobre esse baralho na época em que eu usei ele em sala, mas fiquei devendo. Então, aí vai. A idéia deste material era a de servir como uma espécie de baralho didático multiuso, ou seja multipropósito, onde os jogadores podem aprender e exercitar conhecimentos musicais diversos com um único material.

Da mesma forma que o baralho tradicional com números e naipes serve para se jogar vários jogos diferentes, este baralho musical pode servir a jogos voltados para o estudo das alturas, harmonia, enarmonia, organologia, ou outros parâmetros musicais dependendo da criatividade do professor.

Pode ser jogado como buraco ou canastra por exemplo, onde as sequências são definidas por modelos de escalas e/ou acordes combinados previamente ao início do jogo. Ou então pode ser jogado como dominó, onde os jogadores vão dispensando duas cartas em uma fila comum.

O baralho pode ser usado também como Jogo da Memória, por exemplo, onde todas as cartas são organizadas em grade com a face para baixo e o objetivo seria virar cartas de instrumentos da mesma família organológica, enfim, vai da criatividade do professor.

O arquivo PDF a seguir contem duas páginas em formato A3, a primeira contendo o baralho a que me referi durante toda postagem, colorido e com várias figuras de instrumentos musicais, e a segunda contendo um outro baralho, mais simples, em preto e branco, focado apenas nas alturas, com uma ilustração da nota no pentagrama.

terça-feira, 7 de abril de 2020

O estado crítico da saúde musical


Há alguns anos atrás, dizer que a música popular estava cada vez mais pobre era uma questão de opinião, porque gosto é subjetivo, não se discute, e etc. Hoje essa questão já não é mais discutida porque a conclusão é evidente: a música popular está um lixo. E quando digo música popular estou me referindo obviamente ao mainstream, ao que está no topo das paradas de sucesso. Basta uma breve pesquisa no youtube, pelas playlists de músicas mais tocadas pra saber quais são os alvos da minha crítica.

Independentemente de gênero e estilo de música o que se encontra nas paradas de sucesso são canções cujas letras estão repletas de conteúdos que banalizam não apenas o sexo como também, e principalmente, fazem apologia à flexibilização dos relacionamentos afetivos como um todo à um nível muito contestável. A traição, por exemplo, deixou de ser motivo de piada ou de arrependimento para ser banalizada e muitas vezes enaltecida, talvez como símbolo dessa nova forma de “amar”... sem amor. Isso tudo sem falar nas músicas que fazem apologia direta e indireta ao uso de drogas ou à bandidagem.

Ainda tem outra questão que me incomoda e muito. Um valor antigo que aprecio muito e que procuro viver no dia a dia é o de que, excetuando-se atividades de caráter sexual, “aquilo que eu não posso fazer em público eu não deveria fazer nem sozinho”. Veja que justamente o sexo, a única coisa que escapa à essa regra devendo permanecer privado, tornou-se protagonista, coadjuvante e figurante nessa novela de mal gosto que tem sido a música popular. E se você estiver pensando “ah mas isso é conteúdo adulto e existe classificação de idade pra isso”, lembre-se que os ouvidos de uma criança não se fecham pra uma música que escuta na rua ou na casa do vizinho só pra obedecer à classificação de idade.

Neste ponto alguém ainda pode perguntar: “Afinal, essa crítica é sobre a música ou sobre a letra das músicas?” E eu digo que é justamente aí que mora o perigo. Porque na prática, as duas coisas são indissociáveis. Se a letra de uma música nos causa uma determinada impressão, a música que embala essa letra fica gravada com essa mesma impressão e vice versa. Não adianta argumentar dizendo “ah eu sei que a letra dessa música não é das melhores, mas eu gosto da batida”. Nosso cérebro não é capaz de separar essas duas coisas e grava uma só impressão pra ambos os conteúdos. Dito isso, aonde você acha que vamos parar se continuarmos nos deixando embalar ao som dessas músicas? Que tipo de gente vamos nos tornar?

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Desenhos de música para colorir


Um professor de música deve sempre que possível priorizar atividades que sejam musicais. Isto é óbvio. Mas no âmbito do ensino escolar, há muitas situações que fogem às condições ideais para a pratica musical, sejam elas administrativas, infraestruturais, interpessoais, etc. A gestão da disciplina dos alunos em uma sala de aula é sem dúvida o maior desafio para a maioria dos professores no sistema educacional tradicional. Foi inclusive um dos motivos que me fez abandonar as salas de aula em 2016.

Na faculdade de música, ao menos na minha época, esse assunto não era abordado com a ênfase que merecia. Como praticamente 100% dos profissionais da educação, eu só fui ter consciência da gravidade do problema ao enfrentá-lo na prática. Por um lado, isso me forçava a ser criativo no desenvolvimento de estratégias pedagógicas e materiais didáticos específicos para minhas aulas. Por outro, foi rápida e progressivamente minando minha disposição de ser um professor de música submetido ao Sistema.

Há alguns anos atrás, uma pesquisa chegou a apontar que professores brasileiros gastam em média 20% do tempo de suas aulas gerindo a disciplina dos alunos. E isso é uma média, o que significa que algumas vezes essa porcentagem é bem maior. Tem dias que um professor simplesmente não consegue fazer absolutamente nada do que planejou, tendo que recorrer à uma infinidade de planos de aula alternativos. E ainda assim, haverá quase sempre um aluno ou outro que não irá colaborar de forma alguma (por questões que extrapolam o ambiente escolar, como problemas familiares, por exemplo).

Fora de contexto, dar um desenho para um aluno (ou mesmo pra toda a turma) colorir durante uma aula de música, pode soar como falta de criatividade, de planejamento, de compromisso com o desenvolvimento musical do aluno, atitude questionável de um professor que deveria prezar pela musicalidade de suas aulas e etc, como aprendemos na faculdade. Mas na prática, quando nem os planos de aula alternativos funcionam e depois de já ter usado todas as "cartas na manga" musicais de que dispomos, considero isso uma alternativa para sossegar aqueles aluninhos inquietos. Então...
Aulas coletivas de música, pra crianças, num ambiente escolar ainda por cima, são extremamente difíceis de ministrar. A heterogeneidade de aptidões motoras e cognitivas complica muito qualquer planejamento pedagógico. É lógico que, em se tratando de ensino coletivo, espera-se que o professor considere a média de desenvolvimento dos seus alunos no seu planejamento. Mas em se tratando de música, é muito difícil encontrar essa média e, mesmo depois de encontrá-la é ainda mais difícil trabalhar a inclusão musical daqueles que não estiverem contidos nela.

É extremamente duro admitir que música não é pra todos. Por isso, não vou admitir. Acho que todos tem capacidade de aprender música, mas cada um no seu tempo, respeitando seus limites, o que nem sempre é possível no âmbito do ensino coletivo. Se não tenho condições de revolucionar o ensino da música nesse contexto, é necessário, de vez em quando, abrir mão da musicalidade em prol da gestão da disciplina, apenas para viabilizar o mínimo, o que ainda é melhor do que nada.


Referências:

domingo, 15 de janeiro de 2017

Orquestra de garrafadas

Há alguns anos, um grande amigo e parceiro musical chamado Reginaldo Costa me apresentou um trabalho com canos de PVC que utilizava com seus alunos de música no Projeto Cariúnas. A idéia de usar canos de PVC na música não era nova, mas a forma com que ele as utilizava em sala, com seus alunos, foi o que me despertou interesse em fazer algo parecido com minhas turmas. Resumidamente, percebi que daquela forma era possível trabalhar habilidades sociais e emocionais importantíssimas e cada vez mais raras nas gerações de crianças de hoje.

Sendo cada aluno responsável por apenas 1 ou 2 canos, a execução de uma melodia só é possível quando os alunos dispõem de total atenção, paciência para esperar a(s) sua(s) vez(es), além de bom reflexo e prontidão para executar a(s) nota(s) sob sua responsabilidade no(s) momento(s) exato(s). Para tanto os alunos forçosamente (e naturalmente) desenvolvem também uma compreensão mais abrangente, mais holística, das músicas que executam. Mas ao mesmo tempo, vivenciam de maneira lúdica o valor de uma única "peça" em um quebra-cabeças,  uma única nota em arranjo musical, um único músico em uma orquestra, ou um indivíduo na comunidade.

Por exemplo, nas ilhas de Java e Bali, na Indonésia, existe o Gamelão, uma espécie de orquestra de música típica, cujo instrumento principal (e homônimo) é constituído de uma série de peças de metal afinadas em diferentes alturas ("tons"). Cada músico do Gamelão é responsável por uma determinada quantidade (e qualidade) destas "gamelas" e executa sua parte de uma intrincada combinação em perfeita sincronia com os demais. No Gamelão, como em quaisquer outras modalidades de orquestra, a responsabilidade pela performance musical também é dividida entre os integrantes, mas aparentemente em um nível muito além do que nós deste lado do globo estamos acostumados.

Gamelão

Mais do que em outros contextos, a parte de um único músico de um Gamelão faz muito menos sentido sozinha, porque as linhas melódicas parecem transpassar as partes de cada músico, ou em outras palavras, parecem "passear" constantemente de um músico para outro da orquestra. Imagine uma música tocada em um piano, mas não por um pianista e sim por dez pianistas, cada qual responsável por no máximo meia duzia de teclas. No Gamelão o resultado musical só pode ser apreciado através da perfeita sintonia entre todos os músicos. Por toda essa complexidade, Carlos Sandroni¹ define o virtuosismo do gamelão como um "virtuosismo da sociabilidade".

Vendo nesta espécie de divisão do trabalho musical uma oportunidade de trabalhar todas aquelas habilidades sociais, cognitivas e emocionais (atenção, paciência, reflexo, prontidão, humildade, responsabilidade, etc...), mas sem recurso para comprar o material e confeccionar os canos de PVC musicais e nem disposição para levá-los de uma escola pra outra de motocicleta (sabendo que quando lá chegassem seriam em pouco tempo destruídos pelos meus "delicados" aluninhos), pus-me a caçar outras alternativas pela internet. Deparei-me com os boomwhackes que em essência funcionam da mesma forma que os canos de PVC, porém são feitos de um material mais flexível, que aparentemente suportaria a "delicadeza" dos meus queridos alunos, não fosse pelo valor do investimento, muitíssimo acima da minha realidade em particular.


Boomwhackers
Pus-me então a vasculhar mais pela internet, focando agora em instrumentos musicais alternativos, junk percussion, e coisas afim, deparei-me então com a Marimba Pet, um instrumento musical constituído por uma combinação de idiofones² a pressão, ou barófonos³; em outras palavras, uma marimba cujas "teclas" são garrafas pet pressurizadas em diferentes tons.


Como explico mais adiante, a (re)pressurização de uma garrafa PET é possível devido à adaptação de um bico de câmara de ar em sua tampa. E, se bem adaptadas para este propósito, não é perigoso como talvez possa se pensar, pois estas garrafas são desenvolvidas justamente para acondicionar líquidos gaseificados, que serão transportados (e chacoalhados), e suportam portanto uma pressão considerável. Mas, ao invés de confeccionar várias marimbas pet, uma para cada aluno, o que sugiro aqui é usá-las como boomwhackers, ou canos de pvc (uma ou duas unidades para cada aluno), o que representa uma opção muito mais prática e viável à realidade do professor e muito mais afinada com os objetivos pedagógicos.

Diferentemente do cenário que geralmente encontramos em conservatórios e escolas especializadas de música, nas escolas de ensino regular o professor de musica lida com turmas grandes, muitas vezes com 30 ou mais alunos. E não é nenhuma novidade pra quem é professor escolar, não importando a área, que as crianças estão cada vez mais difíceis de lidar, mais ansiosas, menos pacientes, menos colaborativas e mais individualistas. Atenção, paciência, humildade, cooperatividade, são todos valores em extinção, fato que muitos colegas professores deverão confirmar ao ler isso. E quando se fala em educação musical (escolar) como uma forma de trabalhar estas habilidades sociais, cognitivas e emocionais, uma orquestra de garrafas PET pressurizadas ao estilo do Gamelão me parece a melhor alternativa, ainda mais por ser tão acessível, já que os instrumentos são inteiramente feitos com material descartado ("reciclável"). Além do mais, após testá-las em diversas turmas, com alunos "delicadíssimos", pude comprovar que elas são resistentes o bastante para o propósito. Se bem construídas, não perdem facilmente sua pressão (e por consequência sua afinação).

Garrafas pet são comumente descartadas em estabelecimentos como restaurantes ou lanchonetes. Você pode pedir ao dono de determinado(s) estabelecimento(s) ou às vezes diretamente a um funcionário que separe por gentileza as garrafas que forem descartadas, se possível com as tampas. Mas atenção ao seguinte: qualquer garrafa PET serve para a fabricação deste instrumento, no entanto, por experiência própria, verifiquei que alguns formatos e tamanhos propiciam um timbre mais claro e uma duração consideravelmente maior quando percutidas devidamente. Mas como cada região, cidade, estado ou país possui uma infinidade de formatos e tamanhos para a comercialização de bebidas, deixo a cada um que se interessar pelo trabalho que descubra por si os formatos e tamanhos que produzirão os melhores timbres.

Quanto aos bicos, podemos garimpá-los em câmaras de ar de moto ou bicicleta descartadas em borracharias. Os bicos devem ser rosqueados até a base (como na figura abaixo) e estar completos: com válvula e porca. Mas não dispense bicos incompletos (sem válvula ou porca) pois às vezes o que você não conseguir em uma borracharia, você pode achar sobrando noutra. A tampa é opcional, mas dependendo do público de alunos é indispensável, pois às vezes é difícil contê-los para não apertarem "sem querer querendo" a válvula deixando o ar e a afinação escaparem.


Com uma furadeira equipada com uma broca de madeira do tamanho exato do diâmetro do bico, faça um furo bem centralizado na tampa, atrevesse-o com o bico já devidamente aparado na base (em torno de 1,5cm de diâmetro) para caber dentro da tampa e prenda-o apertando bem sua porca. A própria borracha da câmara que sobra presa à base do bico, quando pressionada contra a superfície interna da tampa pela porca situada do outro lado, quase sempre é suficiente para garantir uma vedação bastante satisfatória. É importante também que você tenha um saca-válvula (o borracheiro dirá onde conseguir) para apertar ou trocar as válvulas dos bicos quando necessário.


Depois de prontas as garrafas podem ser afinadas com uma bomba manual, dessas que são vendidas em lojas de ciclismo. Podem ser afinadas com bastante precisão, com a ajuda de um afinador eletrônico. Quem for afiná-las perceberá que ao desacoplar o bico da bomba a válvula sempre deixa escapar um pouco de ar desafinando a garrafa. Por isso, calibre a garrafa com uma pressão maior do que a desejada e, com a ajuda de um objeto como um palito de fósforo por exemplo, pressione a válvula liberando pequenas quantidades de ar até chegar na afinação desejada.

Outra questão curiosa que você irá constatar é que pressão e temperatura são aspectos intimamente relacionados. Se a temperatura do ar no interior da garrafa subir ou cair, a pressão também irá subir ou cair e com isso a afinação será afetada. Da mesma forma, quando o ar escapa e a pressão diminui rapidamente o ar resfria e a afinação só estabilizará quando a temperatura no interior da garrafa se equilibrar com a temperatura do ambiente. Não sei porque, mas quando guardadas por um tempo a pressão das garrafas geralmente é alterada para mais, fazendo-se necessário a liberação de uma quantidade muitíssimo pequena para atingir a afinação exata.

Já munidos de garrafas devidamente afinadas e muita coragem e disposição o professor pode agora partir para a prática com seus alunos. As garrafas podem ser então encaradas como um material didático básico das aulas de música, pois com elas é possível trabalhar uma infinidade de conteúdos como intervalos, melodia, harmonia, divisão rítmica, textura, e etc. Uma dica importante: dependendo da faixa etária dos alunos, assim que receberem as garrafas terão um impulso incontrolável de batucá-las, o que é normal. Isso serve de alerta para o professor não esquecer de estabelecer e garantir o cumprimento dos combinados. Por isso também é mais vantagem ter uma garrafa para cada aluno, pois aquele(s) que não se comportar(em) perde(m) sua garrafa.


Para produzir som com as garrafas você pode percuti-las com uma varetinha bem fina de bambu (dessas para confeccionar pipas) ou palito de churrasco, como no vídeo da marimba pet. Batuque toda a superfície da garrafa e você vai descobrir que se percutir no lugar certo (que depende do formato da garrafa) o tom produzido será mais forte, ligeiramente mais duradouro e significativamente mais "nítido" (com mais harmônicos). No entanto, se forem utilizadas como boomwhackers, podem ser percutidas no chão (liso de preferência) se seguradas pela tampa (nunca pelo bico da câmara), o que produzirá um som significativamente mais forte e será mais prático e viável para as atividades de um modo geral.

Passa-som (dinâmica)

Esta é uma atividade muito interessante para apresentar as garrafas aos alunos, pois com as garrafas bem afinadas em tons diferentes, o resultado dessa dinâmica já é naturalmente musical.
Como variação de uma dinâmica de grupo que aprendi na faculdade (salvo engano com a professora Jussara Fernandino), esta atividade visa inicialmente exercitar a atenção e a prontidão do aluno para interagir com os membros do grupo. Sentados em roda, cada participante munido com uma garrafa irá tocar quando indicado ao mesmo tempo em que indica o próximo a tocar.


Podem também seguir a ordem estabelecida pela roda, um de cada vez contra um cronômetro até completar um determinado número de voltas (vamos ver quantas voltas conseguimos completar em um minuto?), ou seguindo um determinado padrão rítmico (por exemplo, semínima-semínima-colcheia-colcheia-semínima), ou ainda um padrão de intensidade (fraco-fraco-forte-forte). A sonoridade fica cada vez mais interessante musicalmente.

Para as crianças é muito importante que as atividades tenham caráter de jogo, de brincadeira, ou em outras palavras é importante que as atividades sejam lúdicas. A implementação de regras de premiação e/ou punição pode ser explorada então nesse sentido. Pode ser um aluno "de fora" pra substituir quem errar, ou contagem de pontos no quadro, etc. Cada professor deverá encontrar a melhor alternativa de acordo com sua realidade.

Bate uma, bate duas (brincadeira)

Esta é uma adaptação do jogo das mãos. Sentados ou ajoelhados em roda e munidos com uma garrafa, a princípio os alunos devem percutir suas garrafas um de cada vez em sentido horário até que alguém, aleatoriamente, percuta duas vezes indicando a inversão do sentido para anti-horário. O aluno que bater errado é substituído por quem estiver na "de fora". Aqueles que já estiverem familiarizados com o jogo das mãos poderão então jogá-lo com as garrafas, onde cada aluno começa o jogo já munido de duas garrafas (uma em cada mão) e quando errar a jogada perde a garrafa e a mão que errou.

Criação e Adaptação

Atividades de criação musical devem inicialmente ser orientadas (focadas em determinados parâmetros musicais) e aos poucos libertadas (associando dois parâmetros, depois três e assim por diante). Com as garrafas é fácil trabalhar parâmetros como altura, duração, intensidade e densidade. Na verdade, o parâmetro da duração é subliminarmente percebido através da distância entre os ataques, algo que é natural e característico do estudo da percussão.

Quanto à adaptação de músicas para as garrafas, as possibilidades são inúmeras. Harmonização é um bom ponto de partida pois compreende a execução simultânea de grupos de garrafas sob uma regência mais simples. O professor pode organizar as notas dos acordes em grupos e aqueles que tiverem as notas contidas nos grupos tocarão quando indicado pela regência.



Já a execução de melodias, é possível mas a regência é mais complexa às vezes inviável dependendo da música e por isso depende de mais expertise dos alunos, pois envolve uma compreensão mais holística da música para perceber com exatidão o momento de cada nota. Uma solução interessante é garantir que todos saibam previamente solfejar as notas da melodia em questão, para tocar apenas aquela(s) que estiver(em) sob sua responsabilidade no momento em que for(em) pronunciada(s).

Pra finalizar, uma paródia que fiz com meus alunos como pretexto para uma adaptação.



REFERÊNCIAS:
¹ SANDRONI, Carlos. Uma roda de choro concentrada: Reflexões sobre o ensino de músicas populares nas escolas. IX Encontro da ABEM. Recife: UFPE, 2000.
² IDIOFONE: tipo de instrumento cujo som é produzido pela vibração do próprio corpo do instrumento quando percutido (por exemplo: claves, cowbel, woodblock, agogô).
³ BARÓFONO: etimológicamente, BARO- "pressão" + FONO = som, ou instrumento cujo som é produzido pela pressão atmosférica.